Thomas Morus: O Santo para o Sínodo

(tradução do artigo de Dr. Samuel Gregg publicado em http://www.catholicworldreport.com/Item/4218/thomas_more_the_saint_for_the_synod.aspx)

Assim como alguns bispos norte europeus contemporâneos estão presentemente procurando falsificar similarmente o ensinamento estabelecido da Igreja, esforços consideráveis foram feitos por bispos em 1533 para persuadir Morus a ser mais flexível com as demandas de Henrique VIII

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“Viver juntos como irmão e irmã? Claro que eu tenho um grande respeito por aqueles que fazem isto. Mas é um ato heróico, e heroísmo não é coisa para o cristão mediano.”

Dentre muitas afirmações feitas pelo Cardeal Walter Kasper ao apresentar o seu caso para mudar o ensinamento da Igreja que proíbe católicos divorciados e recasados que escolhem não viver como irmão e irmã a receber a comunhão, esta foi talvez a mais reveladora. Ela reflete uma abordagem da moral cristã que vai além de apresentar (e, por conseguinte, marginalizar) o ensinamento moral de Cristo como um ideal que, sotto voce, não se espera seriamente que alguém siga por sua livre escolha. Ela também efetivamente menospreza algo que todo cristão deve encarar em algum momento: a Cruz.

Todo cristão tem uma cruz para carregar. A questão não é se nós tropeçamos com o peso. Todos tropeçamos. O que é crucial é que nós nos arrependemos, levantamos e resolvemos continuar e não pecar mais. Cada cristão é, afinal, chamado à santidade, não à mediocridade. Em suma, esforçar-se para ser santo não é só para pessoas extraordinárias. É algo que Cristo pede a todos os Seus seguidores: rico ou pobre, homem ou mulher, africano ou alemão. Em nossa era obcecada pela igualdade, o chamado à santidade é de fato um dos grandes equalizadores para os cristãos – até porque, como São João Paulo II escreveu em sua encíclica Veritatis Splendor, “Perante as exigências morais, todos somos absolutamente iguais” (VS 96)

Neste sentido, as vidas dos santos, especialmente dos mártires, podem bem ser uma forte refutação à proposição de Kasper, sem falar na miríade de ideias para as quais, como todo mundo sabe, ela serve de fachada. E um santo cuja vida é particularmente relevante para o Sínodo das Famílias de 2015 é certamente Thomas Morus. Universalmente reconhecido como um intelectual, político e advogado, nós frequentemente esquecemos que Morus era também um filho, pai e marido. Além disso, um dos princípios pelos quais Morus deu sua vida não poderia ser mais pertinente para a reflexão deste Sínodo: a indissolubilidade do casamento face à determinação de Henrique VIII em viver como marido e mulher com uma senhora que, no entendimento da Igreja, não era sua esposa.

Homem de Família

A medida em que é conhecida a história de Morus pelos católicos, é invariavelmente por suas escolhas nos últimos anos de sua vida. Poucos estão familiarizados com os aspectos mais cotidianos do tempo de Morus na Terra.

Todos os biógrafos de Morus, mesmo os hostis, destacam sua devoção à família. A carga de trabalho assumida por Morus ao ingressar no serviço do rei em 1518 teria quebrado muita gente. Mesmo assim, a despeito de suas pesadas responsabilidades, Morus organizou e ajudou a transmitir um programa educacional para seus filhos, incluindo suas filhas (um passo radical para a época), que causaria vergonha para a maioria de nós hoje. Mesmo quando as obrigações de Morus o obrigavam a ficar longe de sua família por longos períodos de tempo, ele se mantinha em constante correspondência com ela, atentando a seus problemas, dando conselhos e encorajamento, e, quando necessário, gentilmente repreendendo-a.

Acima de tudo, Morus trabalhava para moldar a fé de sua família e seu caráter moral. Viver cristãmente e perseguir as virtudes não era, no entendimento de Morus, algo além do alcance de um tudo menos pequeno grupo heróico. Embora reconhecendo que o autodidatismo fosse difícil, Morus estava firmemente convencido de que era, com a ajuda da graça, uma potencialidade que qualquer um poderia realizar.

É tentador ver tudo isso em termos meio que idílicos: Continuar lendo